Poema-Visão


Visão

Eu vi o Amor — mas nos seus olhos baços 
Nada sorria já: só fixo e lento 
Morava agora ali um pensamento 
De dor sem trégua e de íntimos cansaços. 
Pairava, como espectro, nos espaços, 
Todo envolto n'um nimbo pardacento... 
Na atitude convulsa do tormento, 
Torcia e retorcia os magros braços... 
E arrancava das asas destroçadas 
A uma e uma as penas maculadas, 
Soltando a espaços um soluço fundo, 
Soluço de ódio e raiva impenitentes... 
E do fantasma as lágrimas ardentes 
Caíam lentamente sobre o Mundo! 

Antero de Quental

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